PRELÚDIO: O QUE ESCREVER

PRELÚDIO



"Meu caro amigo.

Fico feliz que tenha se lembrado desse pobre Cura do povoado de Águas Claras. A vida em Águas Claras segue como quando nos conhecemos, mas aquela pequena rusga de poucos anos atrás, quando eu era mais jovem e mais impaciente, tornou-se uma rivalidade que, para minha infelicidade, tem prejudicado meus trabalhos com aqueles que mais precisam de meus serviços. Recentemente uma jovem chegou ao nosso pequeno templo para assumir minha função e eu estava terminando de repassar minhas atividades para que o povo tenha o que precisa sem a intervenção daquele homem ambicioso e cruel. Eu me perguntava porque o senhor da luz permitira tal interferência no trabalho de seu humilde servo, mas seu convite então chegou e iluminou meu caminho. Quando a escuridão parece tudo abraçar, uma simples vela tem o poder de trazer de volta a esperança e, com ela, a sabedoria.

Consegui uma carona em uma caravana e chegarei dentro de poucos dias. Espero a oportunidade de conversar pessoalmente contigo em breve para que me passe os detalhes de seus planos. Não carregarei muito comigo, apenas o essencial.

De seu amigo

Carlos Cipreste"



Muitas vezes mestres e jogadores discutem e se veem em conflito sobre uma questão de certa importância no jogo: o prelúdio (também conhecido como "Background").


A Carta - Gianni Strino

O Prelúdio é a história do personagem antes do jogo começar. É certo que o mais importante é a história a ser criada após a sessão inicial, mas o que veio antes é realmente irrelevante, como alguns dizem? Em D&D, na edição atual, o Player's Handbook já traz uma série de "características pessoais" como os ideais, laços, defeitos e a característica "background" (que diz se o personagem é um herói campesino, um sábio ou um mafioso, por exemplo). Essas características ajudam e muito a dar vida a um personagem para que ele deixe de ser apenas um monte de números numa ficha de papel (ou digital). O formato desse texto poderia ser narrativo, descritivo ou mesmo o texto de uma simples carta, como no exemplo acima.

Mas é necessária uma longa história, com páginas e páginas de conflitos pessoais? Não! Em geral o jogador não é um grande escritor, e nem precisa ser. Da mesma forma que não se espera que o bardo do grupo levante a cada cena artística, puxe um instrumento antigo e componha uma balada, não é necessário que nenhum jogador escreva um conto ou romance sobre seu personagem. Para que um prelúdio diga tudo que é necessário, basta que ele reúna o que foi preenchido nas "características pessoais" e responda algumas perguntas simples. Talvez possa inclusive constar na ficha como respostas as perguntas abaixo, como se respondendo um questionário, ou estarem em meio a um curto texto, ditas aqui e ali, sem se dar a excessos. Você não precisa responder todas as perguntas (ou qualquer uma delas) no seu prelúdio, mas é bom que você tenha isso em mente. Daí talvez o primeiro passo ao escrever seu prelúdio seja, por exemplo, começar por responder a todas em um papel. E depois, se for  caso, montar sua história em cima dessas respostas e do que está na sua ficha.

Lembre-se que o prelúdio está ali para justificar o porquê de você não ser uma pessoa qualquer dentro daquele cenário e não para pedir para que o Mestre ou Narrador modifique regras e coisas combinadas de antemão para se adequar a sua história. Você pode até começar pelo prelúdio, mas ele está ali para servir ao jogo, à narrativa conjunta da mesa e à diversão de todos e não o contrário. Ou seja, não diga que você encontrou ovos de dragão dourado em seu prelúdio se isso não foi discutido antes do jogo e não faz parte da narrativa conjunta. Não force o Mestre a te dar vantagens e presentes. Tenha bom senso.




PERGUNTAS


Passado


O que ele era ANTES de se tornar um aventureiro?


Motivação


Qual a motivação do seu personagem? Por que ele deixou de viver no conforto do seu lar como fazendeiro, mercador, nobre, serviçal, artesão... e foi se tornar um "aventureiro"?


Relacionamentos


Quem em seu passado o influenciou de alguma forma? Quais as pessoas queridas? Quem foi seu tutor? Com quem ele rivalizou em algum momento?


Comportamento


Se você fosse escolher 3 adjetivos pro seu personagem - bons ou ruins - quais seriam?


Preferências


Do que ele gosta? O que lhe dá prazer? Ele gosta especialmente de comer alguma coisa? De beber? De dormir cedo? De ver o luar?


Medos


Ele teme algo em específico? Uma coisa? Uma situação?


Peculiaridades


Finalmente, ele tem alguma mania ou algo que você queira escrever? Talvez uma frase que goste de dizer. Talvez não goste de sujar as botas. Talvez odeie montar ou odeie viagens longas.




CONCLUINDO



Pronto. Respondidas essas questões, você possui um personagem com vida, que você já começa a conhecer para além de seus poderes e habilidades. E ao repassar isso ao mestre, ele também já imagina seu personagem e é capaz de criar ganchos e motivações na aventura que vocês jogarão sem que vocês corram o risco de passar pela estranha situação de ter que se esforçar durante o jogo para simplesmente jogar, ou seja, aquela situação em que o jogador com personagem mercenário se vê obrigado a ajudar o pobre fazendeiro ou corre o risco de "não haver uma sessão de jogo".

Uma última dica: faça da construção de seu prelúdio um trabalho em grupo. Tente unir os personagens na criação da história. Veja cada detalhe da história que todos vocês querem contar juntos na Sessão Zero (Não sabe do que se trata? Leia mais sobre ela AQUI). Isso fará o jogo ficar bem mais interessante para todos!


Espero ter ajudado. Boas rolagens e bons jogos!